Meus Cumprimentos

É melhor atirar-se à luta em busca de dias melhores, mesmo correndo o risco de perder tudo, do que permanecer estático, como os pobres de espírito, que não lutam, mas também não vencem, que não conhecem a dor da derrota, nem a glória de ressurgir dos escombros. Esses pobres de espírito, ao final de sua jornada na Terra, não agradecem a Deus por terem vivido, mas desculpam-se perante Ele, por terem apenas passado pela vida...
Bob Marley

terça-feira, 28 de agosto de 2007

Entendendo a Venezuela (6)

Venezuela é Brasil amanhã


Hoje me reuni com um cliente que me deixou perplexo e preocupado. Na Venezuela, depois das tratativas de negócios de praxe, o assunto Hugo Chávez é inevitável. Os clientes se põem a lamuriar por conta da centralização do câmbio, da “incerteza”, porque os negócios não estão bons etc., apesar de que as ruas estão apinhadas de carros novos, os hotéis estão lotados e os pedidos que estou tirando são maiores do que em outros países.

Mas o sujeito com quem conversei hoje demonstrou uma irracionalidade fora do comum. Depois de desfiar a cantilena costumeira, perguntei-lhe se não seria mais sensato os empresários deixarem a política de lado e trabalharem, como disse que faz aquele cliente que citei no primeiro post que publiquei durante esta viagem à Venezuela.

O sujeito ficou contrariado. Disse que não, que o caminho é o confronto, que “os povos só crescem com derramamento de sangue” (!?). Citou os povos europeus que guerrearam durante toda a história e atribui a essas guerras seu desenvolvimento.

Como uma guerra civil poderia ser boa para uma sociedade? Gente morrendo? Irmãos contra irmãos, trucidando uns aos outros, porque a minoria não quer acatar o desejo da maioria? E essa gente ainda fala de democracia... Essa parte da sociedade venezuelana não sabe o que é isso. É um sacrilégio usar essa palavra.

Não há caminho para dialogar com esses que não aceitam a decisão majoritária da nação. É exatamente o que acontece no Brasil. O argumento deles é o de que o resultado das eleições não é válido porque quem o gerou não foram os mais ricos e instruídos. É a mentalidade que vigia na aurora da República brasileira, quando o voto era censitário, ou seja, quando, para votar, era preciso ser homem, civil, ter um determinado grau de instrução e um determinado poder aquisitivo.

O pior é que o Brasil está indo exatamente pelo mesmo caminho que a Venezuela. No momento em que a maioria mais pobre passou a ignorar a opinião política da minoria mais rica, a primeira tornou-se incapaz de decidir sozinha, na visão da segunda.

Por enquanto, a minoria de classe média e média alta ainda fala da opinião da maioria de classe baixa com resignação. É como se dissesse : “Fazer o quê se os incultos e pobres são incapazes de alcançar nossa visão superior da realidade?”. Mas... Até quando? Quanto demorará para que comecem a dizer que terão que tomar alguma atitude drástica - como dar golpe de Estado - porque a maioria não sabe votar?

Quanto mais tempo fico na Venezuela, mais me preocupa a situação política do Brasil, vendo como é similar à situação do país em que estou. E mais preocupante ainda é que não se consegue dialogar com os meios de comunicação, peças fundamentais do processo de desagregação social que está tomando a América Latina. Alguém tem que conversar com os Marinho, os Frias, os Mesquita etc. Alguém que escutem. Mas quem?
Escrito por Eduardo Guimarães dia 20/08/2007, no seu blo http://edu.guim.blog.uol.com.br

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