Meus Cumprimentos

É melhor atirar-se à luta em busca de dias melhores, mesmo correndo o risco de perder tudo, do que permanecer estático, como os pobres de espírito, que não lutam, mas também não vencem, que não conhecem a dor da derrota, nem a glória de ressurgir dos escombros. Esses pobres de espírito, ao final de sua jornada na Terra, não agradecem a Deus por terem vivido, mas desculpam-se perante Ele, por terem apenas passado pela vida...
Bob Marley

quarta-feira, 4 de julho de 2007

O que é legal nem sempre é justo...

Já faz alguns dias, lendo um jornal, me chamou atenção uma coluna do Procurador Federal Marco Aurélio Moreira. Algo que acredito valer a pena publicar, pois mostra a tremenda bagunça de nossas leis, mas também os juizes (e não a Justiça) dignos que ainda existem. Esta Justiça que condena quando flagram um cidadão em estado de vadiagem, porém não sabe que o grande problema em nosso país é o desemprego, gerado não pelo comodismo, mas pela desigualdade, que se dá pela corrupção.
Neste caso, foi aberto um inquérito, contra um desempregado, pela contravenção de VADIAGEM, que passou pela 5ª Vara Criminal de Porto Alegre. Acredito em nosso progresso, pois existem pessoas conscientes no poder, apesar de poucas, como o juiz Moacir Danilo Rodrigues, que registrou uma sentença justa e crítica, que determinou o arquivamento do processo:

“Marco Antônio Dornelles de Araújo, com 29 anos, brasileiro, solteiro, operário, foi indiciado pelo inquérito policial pela contravenção de vadiagem, prevista no artigo 59 da Lei das Contravenções Penais.

Requer o Ministério Público a expedição de Portaria contravencional.

O que é vadiagem? A resposta é dada pelo artigo supramencionado: “entregar-se habitualmente à ociosidade, sendo válido pelo trabalho...” Trata-se de uma norma legal draconiana, injusta e parcial. Destina-se apenas ao pobre, ao miserável, ao farrapo humano, curtido e vencido pela vida. O pau-de-arara do Nordeste, o bóia-fria do Sul. O filho do pobre que pobre é, sujeito está à penalização. O filho do rico, que rico é, não precisa trabalhar porque tem renda paterna para lhes assegurar os meios de subsistência. Depois se diz que a lei é igual para todos! Máxima sonora na boca de um orador, frase mística para apaixonados sonhadores acadêmicos de Direito.

Realidade dura e crua para quem enfrenta, diariamente, filas e mais filas na busca de um emprego. Constatação cruel para quem, diplomado, incursiona pelos caminhos da justiça e sente que os pratos da balança não têm o mesmo peso.

Marco Antônio mora na Ilha das Flores [?] no estuário do Guaíba. Carrega sacos. Trabalha “em nome” de um irmão. Seu mal foi estar em um bar na Voluntários da Pátria, às 22 horas. Mas, se haveria de querer que estivesse numa uisqueria ou choperia do centro, ou num restaurante de Petrópolis, ou ainda numa boate de Ipanema?

Na escala de valores utilizada para valorar as pessoas, quem toma um trago de cana, num boliche da Volunta, às 22 horas e não tem documento, nem cartão de crédito, é vadio. Quem se encharca de uísque escocês numa boate da Zona Sul e ao sair, na madrugada, dirige [?] um belo carro, com a carteira recheada de “cheques especiais”, é um burguês.

Este se é pego ao cometer uma infração de transito, constatada a embriaguez, paga a fiança e se livra solto. Aquele, se não tem emprego é preso por vadiagem. Não tem fiança (e mesmo que houvesse, não teria dinheiro para pagá-la) e fica preso.

De outro lado, na luta para encontrar um lugar ao sol, ficará sempre de fora o mais fraco. É sabido que existe desemprego flagrante. O Zé-ninguém (já está dito), não tem amigos influentes. Não há apresentação, não há padrinho. Não tem referências, não tem nome, nem tradição. É sempre preterido. É o Nico Bondade, já imortalizado no humorismo (mais tragédia que humor) do Chico Anísio.

As mãos que produzem força, que carregam sacos, que produzem argamassa, que se agarram na picareta, nos andaimes, que trazem calos, unhas arrancadas, não podem se dar bem com a caneta, nem com a vida.

E hoje, para qualquer emprego, exige-se, no mínimo o primeiro grau. Aliás, grau acena para graúdo. E deles é o reino da terra.

Marco Antônio, apesar da imponência do nome é miúdo. E sempre será.

Sua esperança? Talvez o Reino do Céu.

A lei é injusta. Claro que é. Mas a justiça não é cega? Sim, mas o juiz não é.

Determino o arquivamento do processo deste inquérito”.

E depois dizem que devemos seguir as leis. Não exatamente!
Bom, não preciso dizer mais nada. O juiz já falou tudo!!!


Miojo



Um comentário:

Guilherme O. M. S. Flores disse...

Nossa constituição é mais furada que peneira, vimos isso nas aulas de Legislação e Ética...
Tem muuuita coisa errada!!

Abraço!